Como vai...?

Como me sinto
Já nem sei...
Não tenho coragem,
de responder
com falsidade
o clássico "estou bem, e você?"
Pra findar, as perguntas
sem me expor 

Mas quem não faz...
pra mim soa, até,
Automático demais

Você viu?
Que calor hoje faz?!
Que segunda-feira, chata demais
-Sim,
eu vi...
mas por que reclamas sempre,
e nada faz?

Você viu?
Na TV...
7 mortos sem merecer?
-Não, mas fiquei sabendo...
Mas de que adianta
falar de matança
nem sou delegado, 
não sou da policia
nem tinha malicia...
mas mesmo que fosse
Quem garante?!
Que não foram eles
seguindo a velha constante...

Você viu aquele cara?
Acho que é veado...
Só senta cruzado
não olha pras mina
faz xixi sentado
-Nem vi, mas sei lá
não estou tentando provar
que sou "macho"

E aquele embriagado?!
Caindo pelas cantos,
quem sabe até drogado...
-Reparei até no olhar afastado
mas quem parou
pra ouvir seu brado?

Você viu, que ladrão safado?!
Preto é foda,
foge que é assalto!
-O negro injustiçado
que já foi tão açoitado
vivendo na linha
da injustiça, desigualdade
caindo pro lado

Enfim,
Bom dia!
Senhor, entre na fila
Mercado, banco, padaria...
Mais um dia de vida,
na mala a marmita
transbordando cansaço,
no busão lotado

Você!
Viu o céu?!
Viu a beleza,
o prato cheio sobre a mesa
logo após a sobremesa
não transferiu pro papel
jogou tudo ao léu
e trocou por recompensa

Você viu...
O sorriso,
mas se negou a sentir
apenas fazendo o chamado
"Meu papel"

Eu olhei, pra você
mas nada vi,
além de processos
padrões e contagens
costumes covardes,
de garagem
sem banda nem tenda
só risos à venda

FELIPE CUPERTINO