"NASCI ANTES DO TEMPO"
Tudo que criei e defendi
nunca deu certo
Nem foi aceito
E eu perguntava a mim mesma
Por quê?
Quando menina,
ouvia dizer sem entender
quando coisa boa ou ruim
acontecia a alguém:
fulano nasceu antes do tempo.
Guardei.
Tudo que criei, imaginei e defendi
nunca foi feito
E eu dizia como ouvia
a moda de consolo:
nasci antes do tempo.
Alguém me retrucou:
você nasceria sempre
antes do seu tempo.
Não entendi e disse Amém.
Cora Coralina
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TERÇA É CRONICA
Uma lembrança à vela!
Era noite, uma dessas madrugadas qualquer, em que já deveríamos estar em casa há horas...mas continuávamos procurando o que fazer.
As ruas por onde passávamos estavam vazias, pórem falávamos tanto e tão alto, que se caso houvesse algum morador acordado, ele deve ter imaginado que um bloco de carnval de rua era o que estava passando.
Estávamos em quatro amigos: eu, já meio sonolenta e arrependida de ter me aventurado madrugada à fora; Carlos, o mais entusiasta, ditando nossos caminhos; Camila, outra que estava empenhada em não nos deixar desistir de aproveitar o que nos restava da noite e Lucas, o que menos esboçava uma reação...tanto que não tenho certeza se ele realmente queria de fato estar ali ou se simplesmente decidiu dar uma caminhada noturna.
Caminhavámos despreocuopados...o que chega a ser irônico, afinal quando são quatro horas da manhã e você tem de estar no trabalho às nove horas da manhã, nem faz sentido você estar na rua há tanto tempo, sem dormir, e ainda...despreocupado!
Jovens! Somente sendo um para entender sua alma, sempre tão cheia de devaneios!
Às vezes nos esbarrávamos, às vezes revezamos em duplas, sempre nos alternando: todos conversando com todos! Durante um tempo ficamos em dupla: Lucas e eu, alterados ao ponto que já falávamos enrolado, sem muito bem nos entendermos, quando por um segundo que eu me distraí, ele parou e avistou algo no chão, se inclinou para pegar, e eu achando tudo muito estranho, já que ele se inclinou em direção a um amontoado de lixo...
Foi então que eu vi, ele achou um barco à vela, em miniatura, lindo! Todo feito de madeira, rico em cada detalhe tão pequeno, do que seria uma réplica perfeita!
Ficamos todos deslumbrados...todo nosso assunto girava em torno do barco:
-Nossa, não acredito que você achou um barco no lixo! dizia eu espantada.
-Muito lindo! Camila completava.
-Caramba! E ele está novinho! Carlos observava.
E Lucas, orgulhoso de seu feito, nos mostrava o barco, com toda "pompa" e onipotência ao qual o barco nos remetia... a pintura em seu tecido era de uma cruz vermelha, época das cruzadaas...ali na palma da mão dele tanto poder....
E ficamos ansiosos para tocá-lo e Lucas deixou de mão em mão então passar, o seu tesouro...encontrado no lixo.
A Camila segurou, olhou...me entregou, eu, que estava encantada, segurei com cuidado, observei cada detalhe e fiquei perplexa com tanta beleza que havia sido descartada em qualquer lixo...entreguei ao Carlos ... que não se atentou... e o derrubou!
Plaft! E então silenciamos...o barco havia quebrado....
Ajudei Carlos a pega-lo do chão, enquanto ele se desculpava, e entregamos ao Lucas, que agora já nem estava mais tão orgulhoso...seu ar era de chateado....
Então peguei o barco e fiquei tentantdo juntas as partes quebradas...e Lucas observando atento as minhas tentativas...foi quando ele disse:
-Você consegue arrumar?
-Ah, queria tentar! Gostei demais do barco! eu me expliquei.
-Então ele é seu! ele me disse sorrindo.
Talvez ele tenha percebido meu deslumbramento pelo barco...talvez tenha me dado, porque ja não queria mais carregá-lo, afinal quebrado ele já não tinha mais o mesmo valor...
Cheguei em casa naquela manhã em torno das sete horas, colei as parte quebradas do barco, e então coloquei-o junto de outras tantas coisas, em meu quarto , que como minha mãe diz são inúteis de se guardar....mas o barco ficou ali e eu prometi a mim mesma que a história dele eu iria contar.....
Dedico essa crônica à minha amiga Letícia, que vivi comigo pelas madrugadas, me inspirando a escrever novas hitórias!