"NASCI ANTES DO TEMPO"

Tudo que criei e defendi

nunca deu certo

Nem foi aceito

E eu perguntava a mim mesma

Por quê?

Quando menina,

ouvia dizer sem entender

quando coisa boa ou ruim

acontecia a alguém:

fulano nasceu antes do tempo.

Guardei.

Tudo que criei, imaginei e defendi

nunca foi feito

E eu dizia como ouvia

a moda de consolo:

nasci antes do tempo.

Alguém me retrucou:

você nasceria sempre

antes do seu tempo.

Não entendi e disse Amém.

Cora Coralina




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"Causos" do banco azul

"Causos" do banco azul

  Você entra no metrô, está lotado, até que entre inúmeras pessoas você vê aquele sagrado banco, que é tão especial, mas tão especial, que tem até cor diferente dos demais. Então você se lembra das longas horas de trabalho, de estudo, de todo seu cansaço...olha em volta, confere: Ah! Nenhuma pessoa especial para aquele banco especial...cria coragem, respira fundo e senta. Pronto! Suas pernas agracedem, seu coração se acalma, sua respiração fica menos compassada, lhe dando uma leve sensação de prazer. Seu corpo relaxa e todo aquele sono acumulado desde às 5:00hs da manhã o domina: "Vou tirar um cochilo" - você pensa- e então se entrega de corpo e alma àquele único momento do dia que talvez tenha valido a pena , e enquanto você desfruta do prazer, acorda ouvindo gritos: "Uma velha como eu em pé, enquanto esse jovenzinho no meu lugar!"..."E eu grávida e esse folgado no meu lugar!"

  E não é que de trabalhador e estudante adulto você é reduzido ao patamar de "jovenzinho folgado"! Quanta diferença!

  Você levanta assustado, respiração eufórica e uma armadilha: sua mochila, seu fone de ouvido e seu celular se enroscam nas pessoas, pisa no pé de outras, enquanto as duas mulheres continuam indignadas com a sua "cara de pau" de sentar no lugar reservado para elas.

  Pronto! Você está em pé...respira...retoma consciência e já novamente dono das sua faculdades mentais, consegue, enfim, reparar na cena principal e se dá conta de que era um coadjunvante: as duas mulheres estão brigando para ver quem é a "mais especial" para merecer o lugar, e ainda que você já esteja em pé, elas continuam travando uma gruerra pelo direito conquistado por ambas, e ainda assim lhe dão uma "cutucada" ou outra, o criticando...então você começa a ficar incomodado, pensa: "Ufa! Minha estação é a próxima!" O metrô para, as portas se abrem, você que já não tinha onde "enfiar a sua cara" desembarca e entre brigas, ofensas, duas loucas (que provavelmente irão até o fim de seus percursos sem decidir quem senta e quem não senta), vem então à sua cabeça a frase escrita em letras garrafais e que o indigna perante todo o stress, descaso e falta de respeito delas: "...ausentes pessoas nessas condições o uso é livre."

  Você se dá conta de que não cometeu nenhum crime...mas já não importa, você olha no relógio: 18:45hs e novamente cansado, agora humilhado e já atrasado para a faculdade ainda se lembra: "Amanhã vou novamente acordar as 5:00hs da manhã, oh vida!".

 

"Dedico essa crônica à Luciana ( mãe) q foi quem sugeriu o título e à Elizabetti (irmã) que foi quem sugeriu o tema."