"NASCI ANTES DO TEMPO"
Tudo que criei e defendi
nunca deu certo
Nem foi aceito
E eu perguntava a mim mesma
Por quê?
Quando menina,
ouvia dizer sem entender
quando coisa boa ou ruim
acontecia a alguém:
fulano nasceu antes do tempo.
Guardei.
Tudo que criei, imaginei e defendi
nunca foi feito
E eu dizia como ouvia
a moda de consolo:
nasci antes do tempo.
Alguém me retrucou:
você nasceria sempre
antes do seu tempo.
Não entendi e disse Amém.
Cora Coralina
Total de visitas: 902
Uma conversa a dois!
Tenho um amigo com o qual gosto muito de conversar...ou cheguei até a achar que o que costumamos fazer era uma conversa, mas não...como é mesmo o nome daquele discurso em primeira pessoa, cheio de "eus": eu acho, eu vi, eu penso, eu ouvi, eu estava dizendo...mas vou tentar explicar melhor para vocês entenderem:
- Oi Mari, bom dia!
- Oi Demétrio, bom dia!
Geralmente nosso "oi" vem seguido de uma pausa momentânea em silêncio, espaço esse preenchido pelas vozes de outras pessoas, que costumam inserir um tema, sobre o qual eu gosto de falar, mas como sou do tipo de pessoa que fala muito, chega a ser ingenuidade minha querer convencê-lo, leitor, que se o tema fosse ruim, eu não falaria...até parece!
Então como em uma armadilha preparada especialmente para ele, falo alguma frase sozinha (pura estratégia minha), e esse meu amigo que costuma sempre estar ao meu lado (coincidência ou não, deixo vocês decidirem...) me pergunta:
- O quê , Mari? Afinal eu nao falei nem alto, nem baixo, mas sim exatamente no tom para chamar a atenção dele.
-Ah, sim, eu acho...e então eu começo meu...como é mesmo o nome?
E conversando com ele, me prolongo, digo o que acho da vida, discurso cheio de devaneios sobre a educação no Brasil ( que fique claro, ele é professor, já eu não...), falo sobre minhas crenças, experiências, falo tanto que desfilo entre todos os humores, às vezes altero o tom de voz, às vezes falo cadenciado, e continuo contando sobre minha vida, minha casa, minhas séries de TV favoritas, vou de Carlos Drumond ao funk sem moderação e pego fôlego enquanto ele, atento, me olha, me ouve...
E continuo...conto sobre os rolês regados a álcool, reflexão interna sobre religião, exponho tudo, e muitas vezes ainda, repito o mesmo assunto, desenvolvo um pouco mais, falo sobre casamento, filhos, dou minha opinião sincera sobre crianças...e quando o tema do assunto é trabalho...imagina...nossa ligação, nosso assunto em comum...mas sou eu quem, sozinha, continuo a falar....
E o mais irônico é que em todas nossas conversas percebo que ele fala pouco...ou quase nada, falante que sou, comento sobre isso com ele, e eu mesma continuo o assunto...até que um dia fiz essa pergunta para ele...a mesma que fiz para vocês no começo de toda minha história...e foi quando me dei conta daquilo que era tão óbvio, e ele ali tão atencioso, nunca tinha me interrompido, sequer esboçado intençao de ir embora, me ouvia como alguém que ouve de verdade, concentrado no que nesse dia descobrimos juntos, que era exatamente o que eu fazia todos os dias, mas somente no momento que ele me respondeu, foi quando eu percebi:
-Demétrio, toda vez que converso com você, falo tanto que me sinto praticamente em um...como é mesmo o nome?
E ele atencioso como sempre, me respondeu sorrindo:
-Monólogo, Mari!
Dedico a crônica de hoje ao meu amigo e colega de trabalho Demétrio, que sugeriu esse ótimo tema!! Espero q você tenha curtido!!! Beijo!!