Ah...como os dias eram simples!

  Antes nos conhecíamos: "Me dá seu telefone?" e era o da sua casa mesmo que você dava e enfim esperava ansioso por aquela ligação, tinha até uma charmosa imprecisão: "Mas será que ele vai ligar bem na hora que eu sair?". Você chegava em casa: "Mãe alguém me ligou?". Época maravilhosa!

  Mas...os tempos mudaram, os anos se passaram, a tecnologia foi ganhando espaço em nossa vida sentimental, o quadro hoje se pinta diferente: 2013, facebook e whatsapp depois...nos conhecemos: "Me adiciona no face?"... e então meu amigo, acabou! Ele vai ver sua vida, saber seus gostos sem precisar perguntar, ver suas fotos ( e tem sempre alguém que te marca naquela foto horrível em que você estava em um dia péssimo), vai saber quem é sua família, vai ver quem são seus amigos e pior, vai ver os comentários que seus amigos fazem sobre você, o que poderia até ser bom, mas pra quem tem amigos tão debochados quanto os meus, pode ser uma tragédia anunciada! Ele vai no mínimo notar que você bebe demais, sai demais, fuma demais, resumindo, leva a vida sem moderação: "Que mina é essa?!"- ele pensa.

  E além de tudo vem a parte que mais me intriga... o "inbox", aquele momento que a pessoa, que muito provavelmente você tenha visto uma única vez na vida, fica on line no bate-papo: "Oi..."-você começao tímido. "Oi, tudo bem?"- a pessoa continua e então você se dá conta de que na verdade nem conhece aquela pessoa e nem tem tanto assunto assim (apesar de muitas vezes já ter até inclusive beijado ela, afinal quem nunca?!) e toda conversa que deveria ser pessoal, íntima, naquele "teti à teti", se torna impessoal e rasa, em uma simples janelinha com fotinho ( que cá entra nós, às vezes nem parece de fato com a pessoa que você conheceu), e então após um leve "blá, blá, blá", vem aquele momento da pressão: "Quando vamos nos ver novamente?" - pergunta o mais interessado. "Ain... não sei." - responde o que ainda está indeciso.

  Então você lembra que tem que dormir...sessão encerrrada? Que nada! Com o número do celular dele salvo no seu, vem mais um momento de tensão: o Whatsapp! Vida longa ao criador do Whatsapp ( uma vez eu li)..."Maldito criador do Whatsapp!" ( é o que na realidade eu penso). Esse aplicativo é tão massacrante que te mantém informado sobre quando a pessoa está disponível nele, enfim, acaba com a sua paz: "Visto hoje 12:35 hs" - o Whatsapp te conta, e você já começa uma tortura interna de questionamentos: "Por que ele ainda não falou comigo?", "Com quem ele deve estar falando?" e enganando a si próprio, evitando uma tentiva de suicído, você pensa: "Ah, vai ver que ele ainda não percebeu que tenho Whatsapp...vou dar um óla"... e só para ajudar seu desespero desarcebado e agora já incontrolável, ele não responde! "Não!!". Seu dia se torna insustentável, seu humor piora, tudo começa a dar errado, nada mais lhe agrada.

  "Ufa! Finalmente vou dormir! Acabou? Ainda não, caro leitor...nas redes sociais e aplicativos da vida, pior e ainda mais constrangedor que o começo é o fim... e o dia seguinte lhe cobra atitudes drásticas: exclusão do número da pessoa ( para que você, bêbado em alguma madrugada qualquer, não o surpreenda com uma mensagem sincera dizendo o quanto você "curtiu àquela ficada"), no facebook desativa o "feed de notícias" para não ter que ver a felicidade dele sendo "esfregada na sua cara" e finalmente dá um "up" nas suas fotos e na sua produção, afinal você pode até estar simplesmente sentado na calçada, conversando com seus amigos, tomando uma cerveja meio quente, mas a foto que postar vai contar somente o que você quiser, então junta todo mundo, escolhe um bom fundo para a foto e sorria, ainda que na verdade você quisesse chorar... É como eu disse... os tempos são outros e você vai continuar em um revezamento sem fim entre bons e maus momentos sentimentais usando como instrumento as redes sociais...mas tanto faz, afinal ontem você conheceu alguém e após mais um beijo de despedida em outro ilustre desconhecido, novamente falou aquela velha frase conhecida: "Você me adiciona no face?!"

Dedico essa crônica ao meu mais que querido amigo Allan Marcel, que foi quem sugeriu o tema da semana! Um bjo seu lindo!