"NASCI ANTES DO TEMPO"

Tudo que criei e defendi

nunca deu certo

Nem foi aceito

E eu perguntava a mim mesma

Por quê?

Quando menina,

ouvia dizer sem entender

quando coisa boa ou ruim

acontecia a alguém:

fulano nasceu antes do tempo.

Guardei.

Tudo que criei, imaginei e defendi

nunca foi feito

E eu dizia como ouvia

a moda de consolo:

nasci antes do tempo.

Alguém me retrucou:

você nasceria sempre

antes do seu tempo.

Não entendi e disse Amém.

Cora Coralina




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7 Copos

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Exatos 365 depois...

 Copo #1 "O encontro"

 2 de novembro de 2013 estava um calor tão forte que a sensação térmica devia ser de 40 graus:

 -Bora para um churras? disse um dos meus amigos.

 - Só se for agora! respondi.

 Éramos cinco: eu, Felipe, Carlos, Aline e Luiza, pausa para uma cerveja no posto, primeiro gole e aquele alívio que somente feriado brindado com cerveja te proporciona.

 Chegamos! Pessoas bonitas, todos com pouca roupa, como a temperatura pedia, o som tocando, sentamos, e então fizemos uma prévia avaliação do ambiente, tanto nós, quanto os meninos procurando alguém que nos atraísse, para tornar a tarde ainda mais agradável.. e o destino fazendo "jus" ao velho ditado popular: "Quem procura...acha!"...eu então o avistei.

 

 Copo #2 "A tentativa"

 -Meninas! Quem é esse cara? perguntei.

 -Eu conheço! o Felipe logo emendou.

 -Sério? perguntei sorrindo.

 E então meu caro amigo, você planeja sua estratégia de conquista...que já te adianto que dificilmente dará certo...mas tentei, com a ingenuidade de quem tenta pela primeira vez. Localizei-me bem, em um lugar de frente para onde ele estava, preparei meu sorriso, retoquei o batom, perguntei para as meninas em que situação estava meu cabelo, tudo conferido: fiz meu copo, mais um drink, outro gole...e quando você bebe, o sorriso fica mais largo, você mais desinibido, múculos relaxados. Pórem, observei que ele não me notava, sempre concentrado em suas conversas, seu mundo, como se estivesse em seu próprio universo, mas não desisti: mudei de lugar, pelas minhas contas no mínimo umas quatro vezes, e para meu insensato azar, ele sempre estava em todos os lugares...menos no que eu estava...irônico não?!

 

 Copo #3 "Aperda de foco"

 Com uma desistência provisória, fiz outro drink, outros goles e então decide conversar com outras pessoas e conforme a quantidade de álcool no seu corpo sobe, seus limites e pudores baixam, e qualquer conversa que teria o mínimo de dificuldade para se iniciar, se torna fácil. Conversei com o que eu apelidei carinhosamente de o "grupo dos olhos azuis": o menino do churrasco, o menino do boné, o menino sem camisa...e sem sequer lembrar o nome de qualquer deles, fiz uma agenda mental, agrupando todos em uma única letra M: de meninos!

 Tive oportunidade de ficar com alguns, outros simplesmente gostei de conversar, e tiveram os que não me acrescentaram em nada, mas foram suficientes para passar o tempo. E assim como pede a bebida em excesso: pausa para o banheiro.

 

 Copo #4 "Banheiro feminino"

 Banheiro feminino é uma das mais curiosas coisas que eu vivencio até hoje, geralmente organizado em uma fila de meninas loucamente embriagadas, com a maquiagem não mais tão bem feita, dizendo frases curtas e sinceras, naquele breve momento, porém um dos mais intímos que alguém pode ter com uma ilustre desconhecida.

 -Nossa! Como essa menina está demorando! disse alguém na fila, que muito provavelmente iniciava a conversa, simplesmente para se distrair da vontade que deveria estar de ir ao banheiro.

 -Você viu se ele me olhou? uma outra menina apreensiva perguntava para amiga, aguardando a resposta.

 Minha vez. Alívio. E com a concentração recuperada, me olhei no espelho, reparei no meu rosto já ébrio...me recompus, retoquei a maquiagem e me lembrei então daquele menino que vi quando cheguei...qual dos meninos? Você deve está se perguntando...o menino de dreds no cabelo, característica fundamental, a qual deixei de citar no príncipio...mas perdoem minha desatenção, é que o deslumbramento foi tão grande ao vê-lo, que distrair-me de descrevê-lo em detalhes foi mera consequência.

 

 Copo #5 "Focada novamente"

 Voltei para a festa, antes de procurá-lo, fiz mais um copo e quando dei outro gole, quão grande foi minha surpresa, quando reparei que já havia outra menina melhor localizada que eu...tão perto dele, tão falante...chamei meu amigo: 

 -Felipe, você conhece o menino de dreds, me apresenta? pedi.

 -Claro! Vamos lá, eu te levo! respondeu-me de prontidão.

 Então fomos em sua direção, sentia cada palpitação do meu coração e elas eram tão fortes que parecia que ele saltaria do meu peito...mais alguns passos e até minha respiração agora era intensa, ofegante:

 -Oi Fernando, firmeza? o Felipe disse, tentando começar um assunto.

 -Oi, eai?! ele respondeu com um dos sorrisos mais lindos que já tive oportunidade de ver, tão perto.

 -Essa é minha amiga: a Ana! o Felipe apontava para mim com um único dedo, segundos antes de simplesmente desaparecer.

 Ficamos só nós dois, ele me olhou...de verdade, me viu, a partir daquele momento ele sabia que eu existia...momentos assim coração e corpo insensatos nunca se esquecem.

 Falavámos muito...fraseávamos de forma livre, despreocupada, despretenciosa...displicentes!

 E eu...ria fácil...mais alguns goles...

 

 Copo #6 "O beijo"

 E ele me beijou...um beijo acanhado, contido, como quem experimenta pela primeira um novo sabor de sorvete: primeiro com curiosidade e cuidado, seguido do desfrute do gosto...único!

 Após o beijo, sorrisos tímidos, então olhei-o e vi que meu batom agora era parte do seu rosto, rodeando sua boca, apoei-me em seu corpo e com meus dedos comecei a limpar-lhes os lábios, como movimentos apressados de quem fez travessura e não quer deixar provas para ser descoberta.

 

 Copo #7 "A despedida"

 O tempo passou rápido a partir de então, como costuma acontecer quando estamos fazendo algo prazeroso...e aquele momento durou tão pouco que fiquei com àquela sensação insana de querer mais...contudo: nos despedimos.

 Meus amigos, já impacientes, me procuravam sedentos por uma fuga para outro lugar, em que a noite, para eles, ainda fizesse valer a pena...

 Só deu tempo para o último copo... o qual tomei no caminho de volta para casa, demasiadamente bêbada, não acreditando na tarde que vi passar pelos meus olhos...e estes...já estavam extremamente vermelhos e sonolentos....

 

 

 

Dedico essa crônica ao personagem principal: Fernando, que mesmo sem intenção alguma, me inspirou a voltar a escrever. E mais uma vez ao meu amigo Ótavio que me perguntou tanto, o q aconteceu após a hitoria da crônica passada....está ai a resposta! ;)